Luz emitida pela tela e detectada pelo olho

A regra de ouro de Fermi

Veja alguns resultados do acoplamento fóton-átomo

1 Introdução

Há duas meneiras de decrever a interação da radiação eletromagnética com a matéria (átomos). A versão semi–clássica considera o campo como ondas eletromagnéticas clássicas (de energia contínua) e os átomos como sistemas quânticos (com energia discreta e função de onda). Na versão quântica, os átomos são quantizados, e, também, o campo é quantizado (na forma de um conjunto de osciladores quânticos): Isso cria duas situações distintas: a excitação do campo é descrita por fótons que possuem energia proporcional à frequência \((n\hbar\omega)\) e a ausência de fótons \((n=0)\) manifesta a energia de ponto zero, ou energia de vácuo \((\frac{1}{2}\hbar\omega)\).

Quando o campo é tratado quanticamente, fenômenos que antes não eram descritos pelo campo clássico, passam a ser explicados. O exemplo mais famoso é o fenômeno da emissão espontânea — idealizada por Einstein (Einstein 1917). Ao utilizar o campo clássico, a emissão espontânea é explicada de maneira indireta, através dos coeficientes de Einstein. Porém, ao utilizar o campo elétrico como um operador quântico de campo elétrico, a taxa de emissão espontânea é resultado (natural) da aplicação da regra da transição atômica, mais conhecida como regra de ouro de Fermi (Stedman 1971) (J M Zhang 2016).

Neste artigo, vamos deduzir a regra de ouro de Fermi e usá-la para determinar as taxas de absorção e emissão de fótons decorrentes do acoplamento fóton–átomo.

2 Regra de ouro para perturbação periódica

Vamos determinar a probabilidade e a taxa de transição para um sistema com dois níveis de energia (por exemplo, um átomo ou um poço quântico). As transições possíveis são do nível \(1\) para o nível \(2\) (absorção) e do nível \(2\) para o nível \(1\) (emissão). O sistema é “banhado” por um campo elétrico que oscila periodicamente, com frequência angular \(\omega\) (por exemplo, pelo campo elétrico da radiação visível: 400 – 750 THz).

Há um elétron em órbita ao redor do núcleo do sistema. Sua posição é \(\vec{r}\) e sua carga é \(e=-q\), sendo \(q = 1.602 \times 10^{-19}\ {\rm C}\). O efeito da distribuição dessa carga ao redor do núcleo será considerado análogo ao efeito de um dipolo elétrico, de vetor:

\[\begin{equation} \vec{D} = e\vec{r} = -q\vec{r} . \tag{2.1} \end{equation}\]

A interação do elétron–dipolo com o campo elétrico produz esta energia (o sinal de menos faz parte da fórmula):

\[\begin{equation} h = -\vec{E} \cdot \vec{D} . \tag{2.2} \end{equation}\]

O campo elétrico aponta na direção do vetor de polarização \(\vec{\Lambda}\):

\[\begin{equation} \vec{E}(\vec{r},t) = \vec{\Lambda} \mathscr{E}(\vec{r}) \mathscr{e}^{-i\omega t} . \tag{2.3} \end{equation}\]

Isso implica em:

\[\begin{equation} h(t) = q (\vec{\Lambda} \cdot \vec{r}) \mathscr{E}(\vec{r}) \mathscr{e}^{-i\omega t} . \tag{2.4} \end{equation}\]

Agora, chamando:

\[\begin{equation} h _ 0 = q (\vec{\Lambda} \cdot \vec{r}) \mathscr{E}(\vec{r}) , \tag{2.5} \end{equation}\]

a perturbação periódica é:

\[\begin{equation} h(t) = h _ 0 \mathscr{e}^{-i\omega t} . \tag{2.6} \end{equation}\]

A probabilidade de transição é estudada no artigo Comportamento dependente do tempo da probabilidade de transição. A considerar um sistema com dois níveis de energia, no regime de acoplamento fraco, a amplitude de probabilidade de transição, do estado fundamental para o estado excitado, é determinada resolvendo:

\[\begin{equation} \frac{d C _ {2 \gets 1}}{dt} = \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h(t)| \varphi _ {1} \rangle \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1}) t / \hbar} . \tag{2.7} \end{equation}\]

A substituir a perturbação periódica:

\[\begin{equation} \frac{d C _ {2 \gets 1}}{dt} = \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h_0 e^{-i\omega t}| \varphi _ {1} \rangle \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1}) t / \hbar} . \tag{2.8} \end{equation}\]

O que implica em:

\[\begin{equation} \frac{d C _ {2 \gets 1}}{dt} = \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / \hbar} . \tag{2.9} \end{equation}\]

Se a perturbação começa em \(t=0\), a solução dessa equação é:

\[\begin{equation} C _ {2 \gets 1} = \frac{1}{i \hbar} \int_0^t dt' \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t' / \hbar} . \tag{2.10} \end{equation}\]

Ou:

\[\begin{equation} C _ {2 \gets 1} = \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle \int_0^t dt' \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t' / \hbar} . \tag{2.11} \end{equation}\]

Agora, resolve-se a integral:

\[\begin{equation} \small \begin{aligned} C _ {2 \gets 1} &= \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle \int_0^t dt' \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t' / \hbar} \\ &= \frac{1}{i \hbar} \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle \frac{1}{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) / \hbar} \left( \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / \hbar} -1 \right) \\ &= - \frac{\langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle}{E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega} \left( \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / \hbar} -1 \right) \times \frac{2i \mathscr{e}^{-i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar}} {2i \mathscr{e}^{-i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar}} \\ &= - \frac{\langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle}{E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega} \left( \frac{ \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar} - \mathscr{e}^{-i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar} }{2i} \right) \times \frac{2i}{\mathscr{e}^{-i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar}} \\ &= - \frac{\langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle}{E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega} \times \sin \Big[ (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) \tfrac{t}{2\hbar} \Big] \times 2i \times \mathscr{e}^{i (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) t / 2\hbar} . \end{aligned} \tag{2.12} \end{equation}\]

Essa amplitude de probabilidade resulta na probabilidade de transição:

\[\begin{equation} | C _ {2 \gets 1} |^2 = | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \times 4 \frac{\sin^2 \Big[ (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) \frac{t}{2\hbar} \Big]} {(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega)^2} . \tag{2.13} \end{equation}\]

Esse resultado pode ser melhorado. A multiplicar por \(\frac{t}{2\hbar}\):

\[\begin{equation} | C _ {2 \gets 1} |^2 = | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \times 4 \frac{\frac{t}{2\hbar} \sin^2 \Big[ (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) \frac{t}{2\hbar} \Big]} {(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega)^2 \frac{t}{2\hbar} } , \tag{2.14} \end{equation}\]

obtém-se:

\[\begin{equation} | C _ {2 \gets 1} |^2 = \frac{2t}{\hbar} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \times \frac{\sin^2 \Big[ (E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) \frac{t}{2\hbar} \Big]} {(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega)^2 \frac{t}{2\hbar} } . \tag{2.15} \end{equation}\]

A chamar \(\Delta E = E_{2} - E_{1}\), a função

\[\begin{equation} \frac{\sin^2 \Big[ (\Delta E - \hbar\omega) \frac{t}{2\hbar} \Big]} {(\Delta E - \hbar\omega)^2 \frac{t}{2\hbar} } \tag{2.16} \end{equation}\]

é conhecida como função “pico de difração,” pois relaciona-se com o padrão de difração de uma fenda única — ver a Fig. 2.1. Quando \(\hbar\omega \to \Delta E\), representa um delta:

\[\begin{equation} \delta(\Delta E - \hbar\omega) \equiv \frac{1}{\pi} \frac{\sin^2 \Big[ (\Delta E - \hbar\omega) \frac{t}{2\hbar} \Big]} {(\Delta E - \hbar\omega)^2 \frac{t}{2\hbar} } . \tag{2.17} \end{equation}\]

A substituir o delta, a probabilidade de transição causada pela perturbação periódica é:

\[\begin{equation} | C _ {2 \gets 1} |^2 = \frac{2\pi t}{\hbar} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \delta(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) . \tag{2.18} \end{equation}\]

A taxa de transição \((W)\) é a probabilidade de transição por unidade de tempo. É determinada fazendo a derivada da probabilidade de transição no tempo. Isso nos leva à regra de ouro de Fermi para o caso de perturbação periódica e transição do estado fundamental para o excitado:

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \delta(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) . \tag{2.19} \end{equation}\]

A taxa de transição para a absorção depende do delta. Isso significa que transições por segundo ocorrerão se a radiação estimuladora for monocromática, com frequência \((\omega)\) igual à frequência da transição atômica \((E_{2} - E_{1})/\hbar\). A “força da transição” está no termo:

\[\begin{equation} \begin{aligned} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 &= | \langle \varphi _ {2} | q (\vec{\Lambda} \cdot \vec{r}) \mathscr{E}(\vec{r}) | \varphi _ {1} \rangle |^2 \\ &= q^2 | \langle \varphi _ {2} | (\vec{\Lambda} \cdot \vec{r}) | \varphi _ {1} \rangle |^2 | \langle \varphi _ {2} | \mathscr{E}(\vec{r}) | \varphi _ {1} \rangle |^2 . \end{aligned} \tag{2.20} \end{equation}\]

Pode-se chamar de \(\theta\), o ângulo entre o vetor de polarização do campo elétrico e vetor de posição do elétron. Nesse caso,

\[\begin{equation} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 = q^2 \cos^2\theta | \langle \varphi _ {2} | \vec{r} | \varphi _ {1} \rangle |^2 | \langle \varphi _ {2} | \mathscr{E}(\vec{r}) | \varphi _ {1} \rangle |^2 . \tag{2.21} \end{equation}\]

Ademais, pode-se levar em conta todos ângulos entre o vetor de polarização e o vetor posição, substituindo a média \(\overline{\cos^2 \! \theta}=\frac{1}{3}\):

\[\begin{equation} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 = \tfrac{1}{3} q^2 | \langle \varphi _ {2} | \vec{r} | \varphi _ {1} \rangle |^2 | \langle \varphi _ {2} | \mathscr{E}(\vec{r}) | \varphi _ {1} \rangle |^2 . \tag{2.22} \end{equation}\]

A taxa de emissão também é determinada através dos passos (2.7) até (2.19) — com algumas adaptações:

\(\rm (a)\) A equação da amplitude de probabilidade para a transição do estado excitado para o fundamental é:

\[\begin{equation} \frac{d C _ {1 \gets 2}}{dt} = \frac{1}{i\hbar} \langle \varphi _ {1} |h(t)| \varphi _ {2} \rangle e^{i (E _ {1} - E _ {2}) t / \hbar} . \tag{2.23} \end{equation}\]

\(\rm (b)\) A perturbação (2.6) é substituída por:

\[\begin{equation} h(t) = h _ 0 \mathscr{e}^{+i\omega t} . \tag{2.24} \end{equation}\]

\(\rm (c)\) O resultado é:

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {1} |h_0| \varphi _ {2} \rangle |^2 \delta(E _ {1} - E _ {2} + \hbar\omega) . \tag{2.25} \end{equation}\]

Contorno da função pico de difração.

Figura 2.1: Contorno da função pico de difração.

3 Campo como osciladores quânticos

Ideias quânticas para o campo eletromagnético apresenta consequências do campo eletromagnético oscilar como oscilam osciladores quânticos. Nessa representação, a energia armazenada no campo é quantizada em fótons (deixa de ser contínua). Também, a energia não parte do zero, há energia, na ausência de fótons, a chamada energia de vácuo de fótons ou energia do ponto zero. Robert Bennett et al apresentam outro ponto importante: A quantização do campo eletromagnético se dá pela transforção do campo elétrico em um operador de campo elétrico e pela trasformação do campo magnético em um operador de campo magnético. O operador de campo elétrico e o operador de campo magnético são escritos em termos de operadores do oscilador quântico: do operador de criação de excitação própria \((a^{+})\) e do operador de aniquilação de excitação própria \((a)\); e o hamiltoniano do campo eletromagnético se torna análogo ao hamiltoniano de um conjunto independente de osciladores quânticos.

O acoplamento do campo elétrico espacial com o dipolo elétrico se manifesta nesta expressão:

\[\begin{equation} h _ 0 = -\vec{\mathscr{E}}(\vec{r}) \cdot \vec{D} . \tag{3.1} \end{equation}\]

Nota: O termo temporal \(\mathscr{e}^{-i\omega t}\) foi parar dentro da fórmula da regra de ouro — veja a passagem (2.8) \(\to\) (2.9).

O dipolo é criado pelo elétron (carga negativa):

\[\begin{equation} \vec{D} = e \vec{r} = -q \vec{r} . \tag{3.2} \end{equation}\]

A substituir (3.2) em (3.1):

\[\begin{equation} h _ 0 = q \vec{\mathscr{E}}(\vec{r}) \cdot \vec{r} . \tag{3.3} \end{equation}\]

A forma quantizada do campo elétrico é (Robert Bennett 2016):

\[\begin{equation} \vec{\mathscr{E}}(\vec{r}) = i \vec{\Lambda} \sqrt{\frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3}} \left( a e^{i\vec{k}\cdot\vec{r}} - a^{+} e^{-i\vec{k}\cdot\vec{r}} \right) . \tag{3.4} \end{equation}\]

Essa fórmula pode ser simplificada para o caso de ondas no visível. Por exemplo, a luz vermelha (400 THz) possui magnitude de vetor de onda igual a \(k = 8.4 \times 10^{6}\) \(\rm m^{-1}\). Se o raio da orbita do elétron for considerado igual ao raio de Bohr \((r = a_0 = 0.53 \times 10^{10}\) \(\rm m)\), obtém-se, \(kr = 0.00045 \ll 1\) e \(e^{\pm i\vec{k}\cdot\vec{r}} \approx 1\), o que implica em:

\[\begin{equation} \vec{\mathscr{E}}(\vec{r}) = i \vec{\Lambda} \sqrt{\frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3}} \left( a - a^{+} \right) . \tag{3.5} \end{equation}\]

Na equação acima, \(\vec{\Lambda}\) é o vetor de polarização.

O estado número de fóton \((|n\rangle)\) representa \(n\) fótons de energia \(\hbar\omega\). Os operadores aniquilação \((a)\) e criação \((a^{+})\) operam da seguinte maneira nesse estado:

\[\begin{equation} \begin{aligned} a |n\rangle &= \sqrt{n} |n-1\rangle ,\\ a^{+} |n\rangle &= \sqrt{n+1} |n+1\rangle . \end{aligned} \tag{3.6} \end{equation}\]

A substituir (3.5) em (3.3):

\[\begin{equation} h _ 0 = iq (\vec{\Lambda} \cdot \vec{r}) \sqrt{\frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3}} \left( a - a^{+} \right) . \tag{3.7} \end{equation}\]

Pela simplicidade, vamos considerar a onda se propagando na direção do eixo \(z\), \(\vec{k} = k \hat{z}\), e o campo elétrico polarizado verticalmente (na direção do eixo \(x\)), \(\vec{\Lambda} = \hat{x}\), conforme ilustrado na Fig. 3.1. Visto que o vetor que posiciona o elétron dentro do átomo tem coordenadas \(\vec{r}=x\hat{x}+y\hat{y}+z\hat{z}\), obtém-se:

\[\begin{equation} \begin{aligned} \vec{k} \cdot \vec{r} &= kz ,\\ \vec{\Lambda} \cdot \vec{r} &= x ,\\ h _ 0 &= iqx \sqrt{\frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3}} \left( a - a^{+} \right) . \end{aligned} \tag{3.8} \end{equation}\]

A tornar a notação mais clara, vamos escrever:

\[\begin{equation} h _ 0 = S \left( xa - xa^{+} \right) , \tag{3.9} \end{equation}\]

e chamar:

\[\begin{equation} \begin{aligned} S &= iq \sqrt{\frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3}} ,\\ |S|^2 &= q^2 \frac{\hbar \omega}{2\varepsilon _ {0} L^3} . \end{aligned} \tag{3.10} \end{equation}\]

Vista esquemática de um campo elétrico polarizado verticalmente se propagando para interagir com um dipolo elétrico com orientação arbitrária.

Figura 3.1: Vista esquemática de um campo elétrico polarizado verticalmente se propagando para interagir com um dipolo elétrico com orientação arbitrária.

4 Taxa de absorção

Vamos trabalhar com a regra de ouro preparada para o caso da absorção (2.19) e com a equação (3.9).

O átomo (ou o poço quântico) se encontra no estado fundamental \((\phi _ {1})\). Ao seu redor, há \((n)\) fótons. O átomo sofre transição para o estado excitado \((\phi _ {2})\) : absorve um fóton. Agora, ao seu redor há \((n-1)\) fótons.

Antes da transição, o sistema átomo/fótons estava no estado:

\[\begin{equation} |\varphi _ {1} \rangle = |\phi _ {1} \rangle |n \rangle = |\phi _ {1}, n \rangle . \tag{4.1} \end{equation}\]

Depois da transição, o sistema foi para o estado:

\[\begin{equation} |\varphi _ {2} \rangle = |\phi _ {2} \rangle |n-1 \rangle = |\phi _ {2}, n-1 \rangle . \tag{4.2} \end{equation}\]

A substituir os estados na equação (2.19), obtém-se

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \phi _ {2}, n-1 |h_0| \phi _ {1}, n \rangle |^2 \delta(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) . \tag{4.3} \end{equation}\]

A utilizar as propriedades dos operadores:

\[\begin{equation} \begin{aligned} \langle \phi _ {2}, n-1 |xa| \phi _ {1}, n \rangle &= \langle \phi _ {2} |x| \phi _ {1} \rangle \langle n-1 |a| n \rangle = \langle \phi _ {2} |x| \phi _ {1} \rangle \sqrt{n} ,\\ \langle \phi _ {2}, n-1 |xa^{+}| \phi _ {1}, n \rangle &= \langle \phi _ {2} |x| \phi _ {1} \rangle \langle n-1 |a^{+}| n \rangle = 0 . \end{aligned} \tag{4.4} \end{equation}\]

E a substituir os resultados acima na equação (4.3):

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} ^{\rm absorção} = n \frac{2\pi}{\hbar} |S|^2 | \langle \phi _ {2} |x| \phi _ {1} \rangle |^2 \delta(E _ {2} - E _ {1} - \hbar\omega) . \tag{4.5} \end{equation}\]

5 Taxa de emissão

Agora vamos trabalhar com a regra de ouro preparada para o caso da emissão (2.25) e novamente com a equação (3.9).

O átomo (ou o poço quântico) se encontra no estado excitado \((\phi _ {2})\). Ao seu redor, há \((n)\) fótons. O átomo sofre transição para o estado fundamental \((\phi _ {1})\): emite um fóton. Agora, ao seu redor há \((n+1)\) fótons.

Antes da transição, o sistema átomo/fótons estava no estado:

\[\begin{equation} |\varphi _ {2} \rangle = |\phi _ {2} \rangle |n \rangle = |\phi _ {2}, n \rangle . \tag{5.1} \end{equation}\]

Depois da transição, o sistema foi para o estado:

\[\begin{equation} |\varphi _ {1} \rangle = |\phi _ {1} \rangle |n+1 \rangle = |\phi _ {1}, n+1 \rangle . \tag{5.2} \end{equation}\]

A substituir os estados na equação (2.25), obtém-se

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \phi _ {1}, n+1 |h_0| \phi _ {2}, n \rangle |^2 \delta(E _ {1} - E _ {2} + \hbar\omega) . \tag{5.3} \end{equation}\]

A utilizar as propriedades dos operadores:

\[\begin{equation} \begin{aligned} \langle \phi _ {1}, n+1 |xa| \phi _ {2}, n \rangle &= \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle \langle n+1 |a| n \rangle = 0 ,\\ \langle \phi _ {1}, n+1 |xa^{+}| \phi _ {2}, n \rangle &= \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle \langle n+1 |a^{+}| n \rangle = \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle \sqrt{n+1} . \end{aligned} \tag{5.4} \end{equation}\]

E a substituir os resultados acima na equação (5.3):

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = (n+1) \frac{2\pi}{\hbar} |S|^2 | \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle |^2 \delta(E _ {1} - E _ {2} + \hbar\omega) . \tag{5.5} \end{equation}\]

Essa equação pode ser separada em duas partes:

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} ^{\rm estimulada} = n \times \frac{2\pi}{\hbar} |S|^2 | \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle |^2 \delta(E _ {1} - E _ {2} + \hbar\omega) . \tag{5.6} \end{equation}\]

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} ^{\rm espontânea} = 1 \times \frac{2\pi}{\hbar} |S|^2 | \langle \phi _ {1} |x| \phi _ {2} \rangle |^2 \delta(E _ {1} - E _ {2} + \hbar\omega) . \tag{5.7} \end{equation}\]

O método foi capaz de explicitar a taxa de transição da emissão espontânea! Algo não realizável considerando o campo elétrico na sua forma clássica. O conceito de emissão espontânea é fruto da mente brilhante de Einstein (Einstein 1917). Todavia, seu trabalho não considerou o campo de acordo com a teoria eletromagnética quântica. A quantização do campo eletromagnético foi realizada pela primeira vez por Dirac (Dirac 1927). O resultado (5.7) prova que a emissão espontânea decorre da quantização do campo eletromagnético.

A emissão espontânea não depende dos fótons que rodeiam o átomo: observe que o número de fótons \((n)\) só pararece na fórmula da emissão estimulada. Isso significa que qualquer corpo (mesmo na ausência de fótons) emite radiação espontânea — o que se conclui:

A emissão espontânea é estimulada pelo campo de vácuo.

Os resultados (5.6) e (5.7) mostram que os fótons podem ser produzidos por emissão estimulada ou espontânea. Uma vez gerados por emissão espontânea, esses fótons podem ser utilizados para impulsionar a emissão estimulada — princípio básico do funcionamento de um laser: a emissão espontânea dá o “pontapé inicial” na contagem do número de fótons necessário para desencadear a emissão estimulada — e amplificar o número de fótons emitidos.

6 Modos de campo eletromagnético

A decomposição do campo eletromagnético em componentes dinamicamente independentes é chamada de decomposição de modo normal. Um análogo geométrico seria a decomposição de um vetor em suas componentes ao longo dos eixos \((x,y,z)\). A decomposição de modo normal é mais “robusta” que a vetorial, pois envolve mais elementos. Por exemplo, um conjunto infinito de ondas transversais planas é o caso mais famoso de uma base de modos normais utilizada para realizar decomposição.

Um campo elétrico genérico \(\left(\vec{E}\right)\), então, pode ser decomposto em modos normais independentes \(\left(\vec{E}_\ell\right)\), sendo cada \(\ell\) caracterizado por quatro números \(\big(n_x,n_y,n_z,\Lambda\big)\):

\[\begin{equation} \vec{E} (\vec{r},t) = \sum _ \ell \vec{E} _ \ell (\vec{r},t) . \tag{6.1} \end{equation}\]

Somar em \(\ell\) significa correr os quatro índices. Os três primeiros \((n_x,n_y,n_z)\) são números inteiros (positivos, negativos ou zero) e estão relacionados com o vetor de propagação (o número de onda é quantizado dentro de uma caixa cúbica de volume \(\rm L_{box}^3\)):

\[\begin{equation} \vec{k} = k _ x\hat{x} + k _ y\hat{y} + k _ z\hat{z} = \frac{2\pi}{\rm L _ {box}} (n _ x\hat{x} + n _ y\hat{y} + n _ z\hat{z}) . \tag{6.2} \end{equation}\]

O contador \(\Lambda\) é decorrente da condição transversal a qual permite 2 polarizações para cada vetor de onda: \(\Lambda=1\), realiza a contagem da polarização \(\vec{\Lambda}_1\); e \(\Lambda=2\), a contagem da polarização \(\vec{\Lambda}_2\).

Entende-se, então, que o contador \(\ell\) pode assumir os seguintes valores:

\[\begin{equation} \begin{aligned} \ell &= \Big( +|n _ x| ,\ +|n _ y| ,\ +|n _ z| ,\ 1 \Big) \\ \ell &= \Big( +|n _ x| ,\ +|n _ y| ,\ +|n _ z| ,\ 2 \Big) \\ \ell &= \Big( -|n _ x| ,\ -|n _ y| ,\ -|n _ z| ,\ 1 \Big) \\ \ell &= \Big( -|n _ x| ,\ -|n _ y| ,\ -|n _ z| ,\ 2 \Big) \end{aligned} \tag{6.3} \end{equation}\]

Nota: É óbivio, se o objetivo é contar vetores de onda (desconsiderando as polarizações), \(\ell\) perde o contador \(\Lambda\), ou seja: \(\ell=(n_x, n_ y, n_z, \Lambda) \to \ell=(n_x, n_ y, n_z)\); e a contagem total cai pela metade:

\[\begin{equation} \begin{aligned} \ell &= \Big( +|n _ x| ,\ +|n _ y| ,\ +|n _ z| \Big) \\ \ell &= \Big( -|n _ x| ,\ -|n _ y| ,\ -|n _ z| \Big) \end{aligned} \tag{6.4} \end{equation}\]

A frequência angular é determinada pela fórmula \(\omega = c\big|\vec{k}\big|\) (e não depende da polarização). Resulta em um mesmo valor quando os vetores de onda apontam em direções opostas: \(\omega_{(\ell>0)} = c\big|\vec{k}_{(\ell>0)}\big| = c\big|\vec{k}_{(\ell<0)}\big| = \omega_{(\ell<0)}\). Isso quer dizer que a onda para a direita e a sua “clone” para a esquerda vibram com a mesma frequência angular. Acrescente a esse quadro as polarizações (duas) e conclua com o auxílio da figura 6.1 que a frequência angular \(\omega_{\ell}\) se relaciona com 4 modos de oscilação.

Modo 1: onda para a direira (polarização vertical).

Modo 2: onda para a direita (polarização horizontal).

Modo 3: onda para a esquerda (polarização vertical).

Modo 4: onda para a esquerda (polarização horizontal).

Quatro modos do campo eletromagnético que vibram com a mesma frequência angular.

Figura 6.1: Quatro modos do campo eletromagnético que vibram com a mesma frequência angular.

Ao realizar a contagem dos modos esta pergunta deve ser respondida:

Quantos modos existem entre as frequências angulares \(\omega\) e \(\omega + d\omega\)?

Vamos chamar essa resposta de \(g(\omega) d\omega\).

Antes de responder essa questão, devemos nos perguntar:

Quantos vetores de propagação existem entre os números de onda \(k\) e \(k + dk\)?

Vamos chamar essa resposta de \(g(k) dk\). Ao pensar de acordo com a geometria do espaço-k, no eixo \(x\), de acordo com equação (6.2), dois pontos consecutivos, por exemplo, os pontos \(n_x=99\) e \(n_x=100\), estão distantes \(\rm (2\pi / L_{box})\) — análogo para os eixos \(y\) e \(z\). Isso quer dizer, \(\vec{k}\) ocupa o espaço de um cubo de volume \(\rm (2\pi / L_{box})^3\). Em geometria, a fórmula do volume de uma casca esférica é \(4\pi k^2 dk\). Portanto, encontra-se a quantidade de vetores em questão dividindo o volume da casca pelo volume do cubo:

\[\begin{equation} g(k) dk = \frac{4\pi k^2 dk}{\rm (2\pi / L _ {box})^3} = {\rm L _ {box}^3} \frac{k^2}{2\pi^2} dk . \tag{6.5} \end{equation}\]

O resultado acima deve ser corrigido para levar em conta as 2 polarizações transversais dos vetores de propagação:

\[\begin{equation} g(k) dk = 2\times {\rm L _ {box}^3} \frac{k^2}{2\pi^2} dk . \tag{6.6} \end{equation}\]

Nota: A onda plana eletromagnética não polariza ao longo do eixo de propagação. Porém, em sólidos, a onda plana elástica possui 1 modo longitudinal e 2 transversais e a correção se faz \(\times 3\) com o ajuste: \({\rm L _ {box}^3} \to {\rm L _ {solid}^3}\).

O próximo passo é relacionar o número de onda com a frequência angular:

\[\begin{equation} \omega = c\ k \ \ \to \ \ d\omega = c\ dk . \tag{6.7} \end{equation}\]

A substituir os resultados (6.7) no resultado (6.6), obtém-se:

\[\begin{equation} g(\omega) d\omega = {\rm L _ {box}^3} \frac{\omega^2}{\pi^2 c^3} d\omega . \tag{6.8} \end{equation}\]

ou:

\[\begin{equation} g(\omega) = {\rm L _ {box}^3} \frac{\omega^2}{\pi^2 c^3} . \tag{6.9} \end{equation}\]

A dividir por \({\rm L _ {box}^3}\):

\[\begin{equation} \mathtt{g} (\omega) = \frac{\omega^2}{\pi^2 c^3} . \tag{6.10} \end{equation}\]

Unidades e interpretações:

(6.8) \(\rm \Big[ \rm \small adimensional \Big]\): \(g(\omega) d\omega\) é o número de modos entre \(\omega\) e \(\omega + d\omega\).

(6.9) \(\rm \Big[ \frac{1}{s^{-1}} \Big]\): \(g(\omega)\) é o número de modos por unidade de intervalo de frequência angular, ou, a densidade de modos na escala de frequência angular.

(6.10) \(\rm \Big[ \frac{1}{m^3 s^{-1}} \Big]\): \(\mathtt{g} (\omega)\) é o número de modos por unidade de volume por unidade de intervalo de frequência angular.

O gráfico da densidade (6.10) — para alguns valores de frequência comum (Hz) — é apresentado na Fig. 6.2. Observa-se que o canal de alta-frequência disponibiliza mais modos que o de baixa-frequência. Veja, por exemplo, o canal 800 THz disponibiliza \(\rm 100\,000\ modos/m^3/s^{-1}\); enquanto que o canal 400 THz disponibiliza 1/4 desse valor \((\rm 25\,000\ modos/m^3/s^{-1})\).

Densidade modos de campo eletromagnético.

Figura 6.2: Densidade modos de campo eletromagnético.

Pela simplicidade, agora vamos chamar \({\rm L _ {box}^3}=V\).

Até o momento, a densidade de modos foi escrita na escala de frequência angular. A trabalhar na escala de energia, deve-se lembrar que o número de modos no espaço-energia é igual ao número de modos no espaço-omega:

\[\begin{equation} g(E) dE = g(\omega) d\omega \to g(E) = g( \underbrace{\omega} _ {E\hbar^{-1}} ) \underbrace{\left|\frac{d\omega}{dE}\right|} _ {\hbar^{-1}} . \tag{6.11} \end{equation}\]

E, com a equação (6.9), obtém-se a densidade de modos na escala de energia:

\[\begin{equation} g(E) = V \frac{\left( {E\hbar^{-1}} \right)^2}{\pi^2 c^3} \hbar^{-1} = V \frac{E^2}{\pi^2 c^3 \hbar^3} . \tag{6.12} \end{equation}\]

Outra opção é trabalhar na escala de frequência ordinária. Nesse caso, o número de modos no espaço-frequência é igual ao número de modos no espaço-omega:

\[\begin{equation} g(\nu) d\nu = g(\omega) d\omega \to g(\nu) = g( \underbrace{\omega} _ {2\pi \nu} ) \underbrace{\left|\frac{d\omega}{d\nu}\right|} _ {2\pi} . \tag{6.13} \end{equation}\]

E, novamente com a equação (6.9), obtém-se a densidade de modos na escala de frequência ordinária:

\[\begin{equation} g(\nu) = V \frac{\left( 2\pi \nu \right)^2}{\pi^2 c^3} 2\pi = V \frac{8\pi \nu^2}{c^3} . \tag{6.14} \end{equation}\]

Por fim, se o desejo é trabalhar na escala de comprimento de onda, o número de modos no espaço-lambda é igual ao número de modos no espaço-omega:

\[\begin{equation} g(\lambda) d\lambda = g(\omega) d\omega \to g(\lambda) = g( \underbrace{\omega} _ {c 2\pi \lambda^{-1}} ) \underbrace{\left|\frac{d\omega}{d\lambda}\right|} _ {c 2\pi \lambda^{-2}} . \tag{6.15} \end{equation}\]

E, novamente com a equação (6.9), obtém-se a densidade de modos na escala de comprimento de onda:

\[\begin{equation} g(\lambda) = V \frac{\left( c 2\pi \lambda^{-1} \right)^2}{\pi^2 c^3} c 2\pi \lambda^{-2} = V \frac{8\pi}{\lambda^4} . \tag{6.16} \end{equation}\]

Conexões são importantes. As formas alternativas da energia são:

\[\begin{equation} E = \hbar\omega = h\nu = \frac{hc}{\lambda} . \tag{6.17} \end{equation}\]

Isso quer dizer que:

\(\hspace{5cm} \Large \frac{E}{V}\) \(\times\) (6.9) = \(\Large \frac{\hbar\omega^3}{\pi^2 c^3}\);

\(\hspace{5cm} \Large \frac{E}{V}\) \(\times\) (6.12) = \(\Large \frac{E^3}{\pi^2 c^3 \hbar^3}\);

\(\hspace{5cm} \Large \frac{E}{V}\) \(\times\) (6.14) = \(\Large \frac{8\pi h \nu^3}{c^3}\);

\(\hspace{5cm} \Large \frac{E}{V}\) \(\times\) (6.16) = \(\Large \frac{8\pi hc}{\lambda^5}\).

Agora vem a conexão: Esses termos fazem parte da Lei de Planck quando escrita na escala da frequência angular, energia, frequência ordinária e comprimento de onda, respectivamente — pode-se ver as fórmulas em: Ideias quânticas para o campo eletromagnético.

6.1 Modos e Lei de Planck

A radiação de corpo negro se comporta em função da temperatura de acordo com a lei de Planck (Planck 1900):

\[\begin{equation} u(\omega,T) = \frac{\hbar\omega^3}{\pi^2 c^3} \frac{1}{\exp (\hbar\omega / k _ B T ) - 1} . \tag{6.18} \end{equation}\]

Vamos multiplicar ambos lados da equação acima por \({\rm L _ {box}^3} d\omega\) e, com o auxílio da equação (6.8), escrever a lei de Planck em um novo arranjo de termos:

\[\begin{equation} {\rm L _ {box}^3} u(\omega,T) d\omega = {\rm L _ {box}^3} \frac{\omega^2}{\pi^2 c^3} d\omega \frac{1}{\exp (\hbar\omega / k _ B T ) - 1} \hbar\omega. \tag{6.19} \end{equation}\]

O que implica em:

\[\begin{equation} {\rm L _ {box}^3} u(\omega,T) d\omega = \Big[ g(\omega) d\omega \times \langle n(\omega,T) \rangle \Big] \hbar\omega. \tag{6.20} \end{equation}\]

Tal escrita destaca os modos e o número de ocupação desses modos (Mandel 1979):

\[\begin{equation} \langle n(\omega,T) \rangle = \frac{1}{\exp (\hbar \omega / k_B T ) - 1} . \tag{6.21} \end{equation}\]

O interior de uma caixa cúbica de volume \({\rm L _ {box}^3}\) na temperatura \({\rm T_{box}}\) pode vibrar com uma variedade apreciável de frequências: \(\{\dots , \omega_{\diamond} , \omega_{\star} , \omega_{\circ} , \dots \}\).

Ao focalizar na frequência angular \(\omega_{\star}\), é evidente que há \(\small \Big[ g(\omega_{\star}) d\omega \Big]\) modos disponíveis entre \(\omega_{\star}\) e \(\omega_{\star} + d\omega\). Porém, não há informação se esses modos estão ativos na temperatura em que a caixa se encontra.

O número \(\langle n(\omega_{\star}, {\rm T_{box}}) \rangle\) revela quantos modos poderão se tornar ativos (ocupados) na frequência e temperatura em questão.

É o casamento perfeito: modos disponíveis com possibilidade de ativação!

Dito isso, torna-se claro que há \(\small \Big[ g(\omega_{\star}) d\omega \times \langle n(\omega_{\star},{\rm T_{box}}) \rangle \Big]\) modos ativos entre \(\omega_{\star}\) e \(\omega_{\star} + d\omega\). Ademais, cada modo ativo contribui com a energia \(\hbar\omega_{\star}\).

Ao somar a energia total na caixa, os modos que vibram entre \(\omega_{\star}\) e \(\omega_{\star} + d\omega\) contribuem com a parcela de energia \(\small \Big[ g(\omega_{\star}) d\omega \times \langle n(\omega_{\star},{\rm T_{box}}) \rangle \Big] \hbar\omega_{\star}\). As outras parcelas são decorrentes de modos que vibram em outros intervalos de frequência, por exemplo, entre \(\omega_{\diamond}\) e \(\omega_{\diamond} + d\omega\).

7 Taxa de transição para um conjunto de estados quase-contínuos

A regra de ouro preparada para os casos de absorção (2.19) e emissão (2.25) se aplica exclusivamente quando o “salto quântico” ocorre entre estados discretos. Mas isso nem sempre acontece! Um dos níveis (fundamantal ou excitado) pode estar centralizado em um conjunto de estados quase-contínuos. Nesse caso, é necessário adaptar as fórmulas — com o auxílio da densidade de estados de elétrons na escala de energia, \(g_{\rm e}(E)\).

Algo que se deve lembrar é a seguinte propriedade da função delta:

\[\begin{equation} \int dx\ f(x) \delta(x - \mathfrak{X}) = f(\mathfrak{X}) . \tag{7.1} \end{equation}\]

Agora vamos trabalhar o caso da absorção e, depois, fazer alguns ajustes para resolver o caso da emissão.

Na absorção, o “salto” é do nível discreto \(E_1\) para um conjunto de níveis quase-contínuos centalizado em \(E_f=E_2\): \(E_a < E_f < E_b\). Isso significa que precisamos somar cada “salto” usando a fórmula (2.19):

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \sum _ {f} \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {f} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \delta(E _ {f} - [E _ {1} + \hbar\omega]) . \tag{7.2} \end{equation}\]

Cada termo da equação (7.2) leva em conta a contribuição de “1–salto.” Precisamos somar vários “saltos.” Visto que os níveis de energia são muito próximos uns dos outros, a somatória pode ser substituída por uma integral. O número de “saltos” entre \(E_f\) e \(E_f + dE_f\) é determinado pelo número de estados nesse intervalo: \(g_{\rm e}(E_f) dE_f\). Então, faz-se a troca da \(\sum_{f}\) pela \(\int g_{\rm e}(E_f) dE_f\) (Stedman 1971):

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {f} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 \int dE _ f\ g _ {\rm e}(E _ f) \delta(E _ {f} - [E _ {1} + \hbar\omega]) . \tag{7.3} \end{equation}\]

E, usando a propriedade (7.1):

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {f} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 g _ {\rm e}(E _ {1} + \hbar\omega) . \tag{7.4} \end{equation}\]

Na absorção, \(E_1 + \hbar\omega = E_2\):

\[\begin{equation} W _ {2 \gets 1} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {2} |h_0| \varphi _ {1} \rangle |^2 g _ {\rm e}(E _ {2}) . \tag{7.5} \end{equation}\]

O resultado é claro: a taxa de absorção é proporcional à densidade de estados excitados: \(g _ {\rm e}(E _ {2})\).

Você já deve ter concluído que a a taxa de emissão será proporcional à densidade de estados fundamentais: \(g _ {\rm e}(E _ {1})\). Tem razão, na emissão, o “salto” ocorre do nível discreto \(E_2\) para um conjunto de níveis quase-contínuos centalizado em \(E_i=E_1\). A somatória (2.25) se transforma nesta integral:

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {i} |h_0| \varphi _ {2} \rangle |^2 \int dE _ i\ g _ {\rm e}(E _ i) \delta(E _ {i} - [E _ {2} - \hbar\omega]) . \tag{7.6} \end{equation}\]

E, usando novamente a propriedade (7.1):

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {i} |h_0| \varphi _ {2} \rangle |^2 g _ {\rm e}(E _ {2} - \hbar\omega) . \tag{7.7} \end{equation}\]

Na emissão, \(E_2 - \hbar\omega = E_1\):

\[\begin{equation} W _ {1 \gets 2} = \frac{2\pi}{\hbar} | \langle \varphi _ {1} |h_0| \varphi _ {2} \rangle |^2 g _ {\rm e}(E _ {1}) . \tag{7.8} \end{equation}\]

As taxas de transição (7.5) e (7.8) possuem a mesma estrutura. Há uma constante, o termo que expressa a “força da transição” e a densidade de estados de elétrons. Porém, o grande diferencial é o argumento da densidade de estados. Observa-se que a densidade “segue” a seta da transição.

Transição \((2 \gets 1)\) \(\implies\) \(g _ {\rm e}(E _ {2})\) .

Transição \((1 \gets 2)\) \(\implies\) \(g _ {\rm e}(E _ {1})\) .

Conclui-se que a densidade de estados que aparece na regra de ouro de Fermi é a densidade de estados finais.

A fórmula da densidade de estados de elétrons é determinada usando princípios da mecânica quântica atômica. Mas acredito ser possível buscar um caminho alternativo. Vamos raciocinar. Na emissão, cada transição \((i \gets 2)\) gera 1-fóton de energia \((E_2 - E_i)\). As várias transições — para um conjunto de estados quase-contínuos — vão gerar um acúmulo de fótons com energia ao redor de \((E_2 - E_1)\). A equação (6.12) expressa a densidade de modos de campo eletromagnético na escala de energia, a qual, está relacionada com a emissão atômica que está relacionada com a densidade de estados fundamentais. Portanto, a densidade de estados finais que entra na equação (7.8) [e também na (7.5)] pode ser substituída pela densidade de estados de fótons:

\[\begin{equation} g _ {\rm e}(E _ {1}) \to g(E _ {2} - E _ {1}) = V _ {\rm box} \frac{(E _ {2} - E _ {1})^2}{\pi^2 c^3 \hbar^3} . \tag{7.9} \end{equation}\]

Esse resultado é incrível! Mostra que a emissão é controlada pelo volume da caixa! Quer dizer, se fizermos uma caixa bem pequena, da ordem de grandeza do comprimento de onda que o átomo deseja emitir, é possível ocorrer a supressão da emissão atômica (W Jhe 1987).

8 Conclusão

A descrição quântica da interação da radiação eletromagnética com a matéria, em que os átomos e o campo eletromagnético são quantizados, é eficaz em determinar as taxas de absorção e emissão. Destaca-se a emissão espontânea. Antes, pela descrição semi-clássica, é entendida através dos coeficientes de Einstein. Agora, pela descrição quântica, fica evidente que decorre da quantização do campo eletromagnético.

Conclui-se, também, que a regra de ouro de Fermi é uma ferramenta adaptável: pode ser utilizada para lidar com transições entre estados discretos e entre estado discreto e conjunto de estados quase-contínuos.

Referências

Weisstein, Eric W. “Delta Function.” From MathWorld — A Wolfram Web Resource: https://mathworld.wolfram.com/DeltaFunction.html.

Dirac, P A M. 1927. The Quantum Theory of the Emission and Absorption of Radiation. Proc. R. Soc. Lond. A, Volume 114, Page 243.
Einstein, A. 1917. On the Quantum Theory of Radiation. Physikalische Zeitschrift, Volume 18, Pages 121-128.
J M Zhang, Y Liu. 2016. Fermi’s Golden Rule: Its Derivation and Breakdown by an Ideal Model. European Journal of Physics, Volume 37, Number 6.
Mandel, L. 1979. Photon Occupation Numbers in Black Body Radiation. J. Opt. Soc, Am., Vol. 69, No. 7.
Planck, M. 1900. On the Theory of the Energy Distribution Law of the Normal Spectrum. Deutsche Physikalische Gesellschaft, Volume 2, Pages 202-204.
Robert Bennett, Almut Beige, Thomas M Barlow. 2016. A Physically Motivated Quantization of the Electromagnetic Field. European Journal of Physics, Volume 37, Number 1, 014001.
Stedman, G E. 1971. Fermi’s Golden Rule — an Exercise in Quantum Field Theory. Am. J. Phys. Volume 39, Page 205.
W Jhe, E A Hinds, A Anderson. 1987. Suppression of Spontaneous Decay at Optical Frequencies: Test of Vacuum-Field Anisotropy in Confined Space. Physical Review Letters, Volume 58, Number 7 Pages 666-669.
Cássio Sanguini Sergio
Físico

Meus interesses de pesquisa incluem aglomerados e semicondutores.

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