1 Introdução
O artigo 2-Massas, 2-Poços; 2-Massas, 1-Poço; 2-Elétrons, 2-Poços; 2-Elétrons, 1-Poço analisa 4 situações de 2-partículas confinadas em poços quânticos.
Este artigo analisa a situação de 1-elétron confinado em 2-poços quânticos. Na literatura, o sistema é conhecido como Double Quantum Well (DQW) — Poço Quântico Duplo. A estrutura é formada por 2-poços separados por 1-barreira delgada, o que permite o tunelamento do elétron através da barreira (Tetsuya Tada 1988). Isso significa que há probabilidade do elétron ser encontrado no primeiro e também no segundo poço do DQW.
Um método – para se determinar a energia de confinamento e a função de onda de um DQW – é o método numérico (A Keshavarz 2010).
Neste artigo – a energia de confinamento e a função de onda – serão encontradas com base em resultados de equações transcendentais (Tsuneo Kamizato 1989). A técnica consiste em cruzar equações que levam em conta condições de continuidade da função de onda nas interfaces poço/barreira — o local do cruzamento pode ser determinado por meio de um gráfico.
2 O perfil do potencial
O poço quântico duplo (DQW) é formado por 2-poços retangulares separados por 1-barreira central. Neste artigo, os poços serão considerados com potencial negativo, \(V(x)=-V_0\), e as barreiras laterais e central, com potencial igual a zero, \(V(x)=0\). A Fig. 2.1 mostra o perfil de potencial e a nomenclatura adotada para designar cada peça do DQW.
Olhando os cortes da Fig. 2.1, nota-se que \((b,w)\) representam a largura de barreira central e largura de poço individual, respectivamente. Também, que há simetria em relação à origem das posições \((x=0)\). Por isso, esse tipo de DQW é classificado como simétrico – é classificado como assimétrico quando os poços são diferentes, por exemplo, caso não possuam larguras ou profundidades iguais (J Ram 2006).
3 As características da função de onda
O estudo se concentrará na energia de partícula menor que a altura de barreira e maior que o fundo de poço, ou seja, quando a energia do elétron estiver entre \(-V_0<E<0\).
Na região dos poços, o número de onda da peça de função de onda é real:
\[ k = \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(E+V_0)} , \tag{3.1} \]
e a solução da equação de Schrödinger resulta em exponencial complexa, do tipo \(e^{\pm ikx}\).
Na região das barreiras (central, barreira-1 e barreira-2), a combinação de potencial nulo com energia de partícula negativa produz número de onda imaginário:
\[ k^{\rm img} = \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(E-0)} , \tag{3.2} \]
sendo conveniente escrevê-lo na forma
\[ k^{\rm img} = i q, \tag{3.3} \]
onde
\[ q = \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(0-E)} . \tag{3.4} \]
Então, na região das barreiras, a solução da equação de Schrödinger resulta em exponencial real, do tipo \(e^{\pm qx}\).
Em (3.1) e (3.4), as grandezas \(m\) e \(\hbar\) representam a massa do elétron e a constante de Planck, nesta ordem.
Explorar a simetria do DQW 2.1 poupa trabalho na hora de determinar a função de onda global, que se estende de \(-\infty < x < \infty\), pois, é preciso se preocupar apenas com a determinação da função do lado direito do DQW, já que a função do lado esquerdo \((x<0)\) é mais ou menos igual à função do lado direito \((x>0)\):
\[ \Psi(x<0) = \pm \Psi(x>0) . \tag{3.5} \]
Na linguagem matemática, quando
\[ \Psi(x<0) = + \Psi(x>0), \tag{3.6} \]
diz-se que a função é par (seu gráfico tem simetria em relação ao eixo vertical), e quando
\[ \Psi(x<0) = - \Psi(x>0) , \tag{3.7} \]
é dito que a função é ímpar (seu gráfico tem simetria em relação à origem).
Logo, as soluções do DQW 2.1 se dividem em 2-grupos: o conjunto de funções de onda pares e o conjunto de funções de onda ímpares.
Deve-se escolher peças de função de onda com o objetivo de simplificar a manipulação matemática. O capítulo 9 do livro Confinamento e Espalhamento por Potenciais Retangulares, que trata do poço quântico simples, iniciou a análise utilizando peças complexas, todavia, após alguns passos matemáticos, transformou-se as peças complexas em peças reais (senos e cossenos). Neste artigo, vamos prontamente iniciar o estudo considerando soluções reais.
Qual solução poderá compor as peças dos poços?
Há propagação de ondas dentro dos poços, ondas que incidem e refletem na interface poço/barreira, então, poderia-se operar com uma combinação de exponenciais complexas, todavia, é mais conveniente usar uma combinação de seno e cosseno.
Qual solução poderá compor a peça da barreira central?
Não há propagação de ondas na barreira central, a solução é a soma de duas exponenciais reais: as que fariam a vez da “onda incidente” e da “onda refletida” – aqui cabe lembrar que a combinação de exponenciais reais resulta em cosseno hiperbólico ou seno hiperbólico.
Qual solução poderá compor as peças das barreiras laterais?
Também não há propagação de ondas nas barreiras laterais, a solução poderia ser do mesmo tipo da barreira central, a soma de duas exponenciais reais, todavia, as barreiras laterais se estendem até o infinito, por isso, a única exponencial que deve permanecer na solução, é aquela que tende a zero no infinito.
4 A equação da energia
Esta seção apresenta o procedimento que leva à equação capaz de fornecer os valores da energia de confinamento do elétron, uma equação cujas raizes podem ser determinadas com auxílio gráfico, denominada equação transcendental.
A notação que é utilizada para descrever as peças da função de onda global, está impressa na Fig. 2.1.
As ponderações feitas na seção [3] nos leva a concentrar o trabalho ao redor do poço-2.
Com o intuito de utilizar o padrão Latex,
será utilizado sin
para seno, cos
para cosseno, tan
para tangente, exp
para exponencial,
cosh
para cosseno hiperbólico e sinh
para seno hiperbólico.
A função de onda dentro do poço-2 é escrita como combinação de seno e cosseno:
\[ P_2 (x) = P \cos [kx] + Q \sin [kx] , \tag{4.1} \]
onde \(P\) e \(Q\) são amplitudes e \(k\) é o número de onda (3.1).
A função de onda dentro da barreira-2 tem a forma de uma exponencial que decai em função do número de onda (3.4):
\[ B_2 (x) = D \exp [-qx] . \tag{4.2} \]
A função de onda deve ser contínua na interface poço/barreira, para isso, iguala-se (4.1) com (4.2) no ponto \(x=b/2+w\):
\[ P \cos [k(b/2+w)] + Q \sin [k(b/2+w)] = D \exp [-q (b/2+w)] . \tag{4.3} \]
A derivada da função de onda também deve ser contínua na interface poço/barreira, para isso, deriva-se as Eqs. (4.1) e (4.2)
\[ \begin{align} P' _2 (x) &= -k P \sin [kx] + k Q \cos [kx] \tag{4.4},\\ B' _2 (x) &= -q D \exp [-qx] \tag{4.5}, \end{align} \]
e, depois, iguala-se os resultados das derivadas no ponto \(x=b/2+w\):
\[ -P \sin [k(b/2+w)] + Q \cos [k(b/2+w)] = -\frac{q}{k} D \exp [-q (b/2+w)] . \tag{4.6} \]
Divide-se a Eq. (4.6) pela Eq. (4.3):
\[ \frac { -P \sin [k(b/2+w)] + Q \cos [k(b/2+w)] } { P \cos [k(b/2+w)] + Q \sin [k(b/2+w)] } = -\frac{q}{k} . \tag{4.7} \]
Manipula-se a Eq. (4.7) até chegar no agrupamento dos senos e os cossenos:
\[ -Q \sin [k(b/2+w)] \left[ 1 -\frac{k}{q} \frac{P}{Q} \right] = P \cos [k(b/2+w)] \left[ 1 + \frac{k}{q} \frac{Q}{P} \right] . \tag{4.8} \]
Encerra-se a dedução utilizando a definição de tangente:
\[ \tan [k(b/2+w)] = -(P/Q) \frac{ \left[ 1 + (k/q) (Q/P) \right] } { \left[ 1 - (k/q) (P/Q) \right] } . \tag{4.9} \]
Que informação se torna pública por meio da equação transcendental (4.9)?
Disparando o gráfico da Eq. (4.9), a energia de confinamento é determinada fixando atenção no cruzamento que a curva tangente faz com a curva da expressão do lado direito.
Das variáveis da Eq. (4.9), ainda resta saber a expressão de \(P/Q\). Conforme discutido na seção [3], há uma expressão vinculada ao conjunto de funções de onda pares e outra vinculada ao conjunto de funções de onda ímpares.
4.1 A expressão de \(P/Q\)
Esta seção determina a expressão de \(P/Q\), vinculada à função de onda par. Para isso, analisa a continuidade da função de onda na interface poço-2/barreira-central: ponto \(x=b/2\).
A função de onda dentro da barreira-central é descrita por um cosseno hiperbólico, já que cossenos hiperbólicos são funções pares:
\[ B_c (x) = B \cosh [q x] . \tag{4.10} \]
A derivada do cosseno hiperbólico resulta em seno hiperbólico
\[ B' _c (x) = q B \sinh [q x] . \tag{4.11} \]
A função de onda deve ser contínua na interface poço/barreira, para isso, iguala-se (4.1) com (4.10) no ponto \(x=b/2\):
\[ P \cos [k (b/2)] + Q \sin [k (b/2)] = B \cosh [q (b/2)] . \tag{4.12} \]
A derivada da função de onda também deve ser contínua na interface poço/barreira, para isso, no ponto \(x=b/2\), iguala-se \(P' _2 (x)\) de (4.4) com \(B' _c (x)\) de (4.11):
\[ P \sin [k (b/2)] - Q \cos [k (b/2)] = -\frac{q}{k} B \sinh [q (b/2)] . \tag{4.13} \]
Multiplicação da Eq. (4.12) por \(\cos [k (b/2)]\):
\[ P \cos^2 [k (b/2)] + Q \sin [k (b/2)] \cos [k (b/2)] = B \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] . \tag{4.14} \]
Multiplicação da Eq. (4.13) por \(\sin [k (b/2)]\):
\[ P \sin^2 [k (b/2)] - Q \cos [k (b/2)] \sin [k (b/2)] = -\frac{q}{k} B \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] . \tag{4.15} \]
Lembrando que \(\cos^2 + \sin^2 = 1\), soma das Eqs. (4.14) e (4.15):
\[ P = B \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] - \frac{q}{k} B \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] . \tag{4.16} \]
Agora, multiplicação da Eq. (4.12) por \(\sin [k (b/2)]\), multiplicação da Eq. (4.13) por \(\cos [k (b/2)]\), e soma dos resultados:
\[ Q = B \cosh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] + \frac{q}{k} B \sinh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] . \tag{4.17} \]
Por fim, a divisão de (4.16) por (4.17), resulta na expressão de \(P/Q\) (função par):
\[ P/Q = \frac { (k/q) \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] - \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] } { (k/q) \cosh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] + \sinh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] } . \tag{4.18} \]
4.2 A expressão de \(\bar{P}/\bar{Q}\)
Esta seção segue o procedimento da seção [4.1] — com algumas adaptações.
A função de onda de caráter ímpar será marcada com uma barra.
A função de onda dentro da barreira-central, agora, é ímpar, por isso, é representada por um seno hiperbólico, já que senos hiperbólicos são funções ímpares:
\[ \begin{align} \bar{B} _ c (x) &= \bar{B} \sinh [q x] \tag{4.19},\\ \bar{B} ' _ c (x) &= q \bar{B} \cosh [q x] \tag{4.20}. \end{align} \]
A função de onda dentro do poço-2 continua escrita como combinação de seno e cosseno:
\[ \begin{align} \bar{P} _ 2 (x) &= \bar{P} \cos [kx] + \bar{Q} \sin [kx] \tag{4.21},\\ \bar{P} ' _ 2 (x) &= -k \bar{P} \sin [kx] + k \bar{Q} \cos [kx] \tag{4.22}. \end{align} \]
Semelhante ao que fizemos na seção anterior, é hora de aplicar as condições de continuidade no ponto \(x=b/2\) e manipular os resultados. Com um pouco de trabalho, é fácil mostrar que \(\bar{P}/\bar{Q}\) (função ímpar) tem o aspecto:
\[ \bar{P}/\bar{Q} = \frac { (k/q) \sinh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] - \cosh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] } { (k/q) \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] + \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] } . \tag{4.23} \]
5 Determinação da energia de confinamento
A determinação da energia do elétron confinado no poço quântico duplo lança mão da equação transcendental desenvolvida na seção [4] e das equações de apoio elaboradase nas seções [4.1] e [4.2]. Vamos, então, agrupá-las nesta seção.
Equações de função de onda par
:
\[ \tan [k(b/2+w)] = -(P/Q) \frac{ \left[ 1 + (k/q) (Q/P) \right] } { \left[ 1 - (k/q) (P/Q) \right] } , \tag{5.1} \]
\[ P/Q = \frac { (k/q) \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] - \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] } { (k/q) \cosh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] + \sinh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] } . \tag{5.2} \]
Equações de função de onda ímpar
:
\[ \tan [k(b/2+w)] = -( \bar{P}/\bar{Q} ) \frac{ \left[ 1 + (k/q) \bar{Q}/\bar{P} \right] } { \left[ 1 - (k/q) \bar{P}/\bar{Q} \right] } , \tag{5.3} \]
\[ \bar{P}/\bar{Q} = \frac { (k/q) \sinh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] - \cosh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] } { (k/q) \sinh [q (b/2)] \sin [k (b/2)] + \cosh [q (b/2)] \cos [k (b/2)] } . \tag{5.4} \]
O método requer varredura na energia do elétron, que é negativa, e está embutida nos números de onda:
\[ k = \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(E+V_0)} , \tag{5.5} \]
\[ q = \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(0-E)} . \tag{5.6} \]
Como se vê na Fig. 2.1, para fitar toda série de energia de confinamento, a varredura deve conter os valores: \(-V_0<E<0\). Ao invés da inspeção ser realizada com números negativos, é preferível utilizar valores positivos. Para isso, pode-se parametrizar a energia:
\[ E = (\eta-1) V_0 , \tag{5.7} \]
e fazer o parâmetro de energia percorrer os valores: \(0<\eta<1\).
5.1 Exemplo numérico
Vamos colocar números nas fórmulas!
Este exemplo considera um DQW de profundidade \(V_0=\) 0,1 eV
e estrutura 100-20-100 Å, quer dizer, de \(w=\) 100 Å e \(b=\) 20 Å.
As curvas das Eqs. (5.1) e (5.3),
que foram designadas curva par
e curva ímpar
, respectivamente,
são apresentadas na Fig. 5.1.
Os cruzamantos das equações transcendentais revelam os seguintes parâmetros de energia (adimensionais):
\[ \begin{aligned} \eta _ 1 &= 0,\!0294 \ \ \leftarrow \ \ {\it curva\ par} ,\\ \eta _ 2 &= 0,\!0300 \ \ \leftarrow \ \ {\it curva\ \acute{\imath}\!mpar} . \end{aligned} \tag{5.8} \]
Os parâmetros (5.8) correspondem às seguintes energias de confinamento (meV):
\[ \begin{aligned} E _ 1 &= -97,\!06 ;\\ E _ 2 &= -97,\!00 . \end{aligned} \tag{5.9} \]
O nível de energia é definido como:
\[ \epsilon = E + V_0 . \tag{5.10} \]
Já que \(V_0=100\) meV, as energias (5.9) correspondem aos seguintes níveis de energia (meV):
\[ \begin{aligned} \epsilon _ 1 &= 2,\!94 ;\\ \epsilon _ 2 &= 3,\!00 . \end{aligned} \tag{5.11} \]
Os resultados indicam que o nível de energia do estado fundamental se origina da solução par e que o nível de energia do primeiro estado excitado vem da solução ímpar. A diferença de energia entre os níveis de energia (5.11) é (meV):
\[ \epsilon _ 2 - \epsilon _ 1 = 0,\!06 . \tag{5.12} \]
6 O efeito da espessura da barreira
A energia de confinamento é sensível em relação à espessura da barreira-central, ao valor de \(b\). A função de onda do lado esquerdo do DQW se conecta com a do lado direito, através da barreira-central, mas, se os poços estiverem muito afastados um do outro, a função de onda perde a conexão. Nesse caso, o efeito de tunelamento passa a ser desprezível, e o DQW se comporta como 2-poços simples, individuais. Por exemplo, para o DQW da seção [5.1], o efeito de espessura de barreira sobre os níveis de energia é apresentado na Fig. 6.1.
O aumento da espessura da barreira faz os níveis do DQW \((\epsilon_1,\epsilon_2)\) se aproximarem do patamar \(\epsilon_1\) (100 Å): nível de energia do estado fundamental de um poço simples de largura 100 Å. O efeito do desacoplamento dos poços é nítido, por exemplo, quando a barreira atinge 50 Å de espessura. Nesse caso, o poço duplo (100-50-100 Å) se comporta como um poço simples (100 Å) afastado (e desacoplado) de outro poço simples (100 Å).
Por outro lado, barreiras delgadas (finas) intensificam a diferença entre os níveis do DQW, como se vê, no início da Fig. 6.1. No limite da barreira desaparecer (\(b \to 0\)), o DQW se comporta como um poço simples de largura \(2w\): O nível de energia \(\epsilon_1\) tende ao nível de energia do estado fundamental de um poço simples de largura 200 Å, e o nível de energia \(\epsilon_2\), avizinha-se do nível de energia do primeiro estado excitado desse mesmo poço simples.
O efeito de espessura de barreira é ilustrado na Fig. 6.2
A Fig. 6.3 mostra que a diferença de energia entre os níveis de energia \((\epsilon_2-\epsilon_1)\) do DQW da seção [5.1] cai exponencialmente em função da largura da barreira.
7 A função de onda par
Distribuído pelas seções, há peças para a construção da função de onda de caráter par, que se estende de \(-\infty < x < \infty\). Cabe, agora, organizar essas peças.
Antes de tudo, precisamos revestir a notação com o fato da energia ser quantizada. Faremos isso, adicionando \(n\) à notação:
\[ \begin{aligned} k_n &= \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(E_n + V_0)} ,\\ q_n &= \frac{1}{\hbar} \sqrt{2m(0 - E_n)} , \end{aligned} \tag{7.1} \]
Nesta seção, o rótulo \(n\) corre entre os números ímpares: \(n=1,3,5,\dots\)
O procedimento é bem simples: Para encontrar a função de onda do lado direto do DQW, divide-se as Eqs. (4.1), (4.2) e (4.10) pela quantidade \(Q\):
\[ \begin{aligned} P_2 (x) /Q &= (P/Q) \cos [k_nx] + \sin [k_nx] ,\\ B_2 (x) /Q &= (D/Q) \exp [-q_nx] ,\\ B_c (x) /Q &= (B/Q) \cosh [q_nx] , \end{aligned} \tag{7.2} \]
sendo as relações de apoio:
\[ \begin{aligned} P/Q &= \frac { (k_n/q_n) \cosh [q_n (b/2)] \cos [k_n (b/2)] - \sinh [q_n (b/2)] \sin [k_n (b/2)] } { (k_n/q_n) \cosh [q_n (b/2)] \sin [k_n (b/2)] + \sinh [q_n (b/2)] \cos [k_n (b/2)] } ,\\ D/Q &= \left\{ (P/Q) \cos [k_n (b/2+w)] + \sin [k_n (b/2+w)] \right\} \exp{ [q_n (b/2+w)] } ,\\ B/Q &= \frac { (P/Q) \cos [k_n (b/2)] + \sin [k_n (b/2)] } { \cosh{ [q_n (b/2)] } } . \end{aligned} \tag{7.3} \]
Agora, o lado esquerdo é o lado negativo \((x<0)\). Vamos chamar os negativos de \(x_{-}\) (e os positivos de \(x_{+}\)). Então, para encontrar a função de onda do lado esquerdo do DQW, explora-se o fato deste caso de trabalho ser o caso par e, conforme (3.6), a função do lado esquerdo é igual à função do lado direito, logo:
\[ \begin{aligned} P_1 (x_{-}) /Q &= P_2 (x_{+}) /Q ,\\ B_1 (x_{-}) /Q &= B_2 (x_{+}) /Q ,\\ B_c (x_{-}) /Q &= B_c (x_{+}) /Q . \end{aligned} \tag{7.4} \]
Por exemplo:
\[ B_1 (-121) /Q = (D/Q) \exp [-q_n \cdot 121] . \tag{7.5} \]
As peças (7.2) e (7.4) constroem a função de onda par em toda extenção do DQW. Mantendo a geometria e profundidade do DQW da seção [5.1], a Fig. 7.1 apresenta a função de onda do estado fundamental — nível de energia \(\epsilon_1=\) 2,94 meV.
8 A função de onda ímpar
Deve-se lembrar que a notação do caso ímpar é marcada com uma barra. Também, que as posições do lado esquerdo e direiro são representadas por \(x_{-}\) e \(x_{+}\), respectivamente.
Atenção na hora de utilizar os números de onda (7.1): Nesta seção, o rótulo \(n\) corre entre os números pares: \(n=2,4,6,\dots\)
Do lado direto do DQW:
\[ \begin{aligned} \bar{P}_2 (x) / \bar{Q} &= (\bar{P}/\bar{Q}) \cos [k_nx] + \sin [k_nx] ,\\ \bar{B}_2 (x) / \bar{Q} &= (\bar{D}/\bar{Q}) \exp [-q_nx] ,\\ \bar{B}_c (x) / \bar{Q} &= (\bar{B}/\bar{Q}) \sinh [q_nx] . \end{aligned} \tag{8.1} \]
Agora, as relações de apoio são:
\[ \begin{aligned} \bar{P}/\bar{Q} &= \frac { (k_n/q_n) \sinh [q_n (b/2)] \cos [k_n (b/2)] - \cosh [q_n (b/2)] \sin [k_n (b/2)] } { (k_n/q_n) \sinh [q_n (b/2)] \sin [k_n (b/2)] + \cosh [q_n (b/2)] \cos [k_n (b/2)] } ,\\ \bar{D}/\bar{Q} &= \left\{ (\bar{P}/\bar{Q}) \cos [k_n (b/2+w)] + \sin [k_n (b/2+w)] \right\} \exp{ [q_n (b/2+w)] } ,\\ \bar{B}/\bar{Q} &= \frac { (\bar{P}/\bar{Q}) \cos [k_n (b/2)] + \sin [k_n (b/2)] } { \sinh{ [q_n (b/2)] } } . \end{aligned} \tag{8.2} \]
E para encerrar, este caso de trabalho é o caso ímpar, segundo (3.7), a função do lado esquerdo é menos igual à função do lado direito:
\[ \begin{aligned} \bar{P}_1 (x_{-}) / \bar{Q} &= - \bar{P}_2 (x_{+}) / \bar{Q} ,\\ \bar{B}_1 (x_{-}) / \bar{Q} &= - \bar{B}_2 (x_{+}) / \bar{Q} ,\\ \bar{B}_c (x_{-}) / \bar{Q} &= - \bar{B}_c (x_{+}) / \bar{Q} . \end{aligned} \tag{8.3} \]
Por exemplo:
\[ \bar{B}_1 (-121) / \bar{Q} = - (\bar{D} / \bar{Q}) \exp [-q_n \cdot 121] . \tag{8.4} \]
As peças (8.1) e (8.3) montam a função de onda ímpar em toda extenção do DQW. Mantendo a geometria e profundidade do DQW da seção [5.1], a Fig. 8.1 apresenta a função de onda do primeiro estado excitado — nível de energia \(\epsilon_2=\) 3,00 meV.
9 A função de onda normalizada
As seções [7] e [8] deixaram em aberto a quantidade \(Q\). Pode-se dizer que as funções de onda apresentadas nas Figs. 7.1 e 8.1 não estão normalizadas.
O valor de \(Q\) é encontrado pelo processo de normalização de função de onda:
\[ \int_{-\infty}^{+\infty} \left| \frac{\Psi(x)}{Q} \right|^2 dx = \frac{1}{\left| Q \right|^2 } . \tag{9.1} \]
Lembrando que \(\Psi(x)/Q\) representa uma função de onda não normalizada,
a Eq. (9.1) nos leva a concluir
que a área debaixo da curva da densidade de probabilidade não-normalizada
é igual à quantidade \(1/|Q|^2\).
O valor de \(Q\) está vinculado ao valor de uma área. Há vários softwares que podem calcular áreas de curvas. O método, aqui sugerido, faz uso desses softwares.
Desse modo, tomando as funções de onda das Figs. 7.1 e 8.1, as áreas de suas densidades de probabilidade possuem os valores impressos na Tabela 9.1.
Função de onda | Área da densidade de probabilidade (m) | Valor de \(|Q|^2\) (m\(^{-1}\)) |
---|---|---|
Par | \(1,\!142 \times 10^{-8}\) | \(8,\!757 \times 10^{7}\) |
Ímpar | \(1,\!137 \times 10^{-8}\) | \(8,\!797 \times 10^{7}\) |
Os valores da Tabela 9.1 são bem parecidos, isso porque as curvas das densidades de probabilidade são quase idênticas — ver a Fig. 9.1.
10 Considerações finais
A primeira equação escrita no artigo, Eq. (3.1), estabeleceu o “público-alvo” que se queira atingir. Pode-se dizer que o “publico-alvo” é o elétron no vácuo. Isso é claro, já que a grandeza \(m\), da Eq. (3.1), representa massa de repouso do elétron: \(m=9,\!11 \times 10^{-31}\) kg. E onde está esse elétron? Não há matéria ao seu redor. O potencial 2.1 que confina o elétron é construído no vácuo.
Então está faltando algo nesse artigo: a matéria!
Poços quânticos não são construídos no vácuo. A indústria de semicondutores investe pesado no desenvolvimento de materiais semicondutores. Faça uma pesquisa sobre o tema. O resultado vai mostrar que são feitos montantes enormes de investimentos para se alcançar uma posição de destaque na indústria de componentes eletrônicos.
O elétron dentro de um material semicondutor se comporta como uma partícula de massa reduzida.
Por exemplo, a massa efetiva do elétron no GaAs é \(0,\!067 \times 9,\!11 \times 10^{-31}\) kg,
ou seja, um valor 15 vezes menor
que a massa do elétron no vácuo.
E como o fator
massa reduzida
afeta o valor da energia de confinamento?
Este será o tema do próximo artigo, tendo como título:
Poço Quântico Duplo de Semicondutores.